segunda-feira, 29 de maio de 2017

O amor de Paulo por Cristo


Leitura: Filipenses 3.4-11

4 Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais:
5 circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu,
6 quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.
7 Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.
8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo
9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé;
10 para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte;
11 para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

RESUMO

Nos versículos anteriores, Paulo mencionou os maus obreiros, os “cães”, os da falsa circuncisão. Agora, ele passa a dar um testemunho sobre si mesmo, no sentido de que, caso ele quisesse, teria ainda muito mais do que se gloriar do que seus oponentes.

4 Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais

Confiar na carne aqui tem a ver com confiar na sua própria justiça própria, do modo como têm feito os falsos mestres.

5 circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu,

Circuncidado ao oitavo dia: ou seja, circuncidado desde criança, conforme a lei de Moisés.

Da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus: ele não era um mestiço, nem helenista, nem prosélito.

Quando se diz Israel, quer dizer que ele era do povo eleito. Descendente de Abraão, Ismael também era. Descendente de Isaque, Esaú também era. Mas foi em Jacó (Israel) que encontramos a gênese do povo eleito.

A motivo de Paulo mencionar ser da tribo de Benjamim não recebe concordância de todos os intérpretes, mas de modo geral, se dá pelo fato da mencionada tribo ter um certo prestígio em Israel.

Quanto a lei, fariseu: considerado o mais importante e zeloso partido dentre os intérpretes da lei.

6 quanto ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.

Quanto ao zelo, perseguidor da igreja: ele, mais do que ninguém, chegou a odiar a igreja por achar que os cristãos estavam desvirtuando a lei.

Quanto a justiça que há na lei: diz respeito à sua adesão interior e observação exterior de todos os ditames da lei, conforme a escola dos fariseus.

7 Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.

Todas essas características mencionadas por Paulo eram imenso lucro e prestígio no contexto de Israel para aqueles dias. O apóstolo, caso tivesse permanecido como fariseu, poderia ter prosperado em poder, fama, bens.

Mas aquilo que era definitivamente como lucro naqueles dias, Paulo considerou como perda.

Mas perda por causa do que? Perda por causa do imenso amor que ele sentia por Cristo!

8 Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo

E Paulo considerava tudo como perda por amor à Cristo; não somente aquilo que ele acabou de narrar de sua própria vida, mas também muitas coisas que ele não mencionou.

E com que propósito ele considerou como perda? Pela “sublimidade do conhecimento de Cristo, meu Senhor”. Não se trata somente de um conhecimento simples, que muitas pessoas podem ter. Cuida-se da “sublimidade do conhecimento”, algo maravilhoso, que vai além do próprio senso comum.

Ele disse que aquelas coisas que ele perdeu, e que eram muito lucrativas, agora ele considerava como “refugo”. Refugo tem uma melhor tradução por “excremento humano”. Não penso que ele considerasse essas coisas como sem valor em si, mas sim que, caso se tornem como um tipo de posição orgulhosa que se tornam barreiras entre ele e Cristo, não passam de coisa inútil.

Tudo isso porque o mais importante era “ganhar a Cristo”. A gente sempre falar em “ganhar as pessoas para Cristo”. Isso ocorrido, deve surgir o desejo em cada um de nós de “ganhar ainda mais a Cristo”. Penso que isso significa ter um maior relacionamento com Ele, nos tornando cada vez mais amigos, parecidos com nosso Senhor.

9 e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé;

A justiça da lei é a das obras, e isso implica em justiça própria. Mas pelas obras da lei nenhum homem será justificado, pois o que vem pela lei é o conhecimento do pecado.

A justiça que vem de Cristo nós a recebemos pela fé. A fé é o instrumento, o meio pelo qual nos apropriamos dos benefícios do que Cristo fez por nós na cruz.

10 para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte;

Paulo quer “o” conhecer, entretanto, sabemos que Paulo já o conhece. Ocorre que tal conhecimento não é estático; pode crescer a cada dia.

E o poder de sua ressurreição: em outra parte, Paulo diz que já fomos ressuscitados em Cristo. Entretanto, ele diz que quer conhecer o poder da ressurreição. Entendo que ele quer dizer “experimentar” em si próprio o poder da vida sobre a morte, o mesmo poder que ressuscitou a Cristo em si.

A comunhão de seus sofrimentos: creio que no mundo moderno e nessa época mimada, nós não damos muita atenção para esse aspecto da fé, mas Paulo ansiava ter comunhão nos sofrimentos de Cristo. Entendo que não só sofrer por amor ao evangelho, como Cristo sofreu, mas também ter os mesmos sentimentos que Cristo hoje também tem por intermédio da igreja, que é o seu Corpo.

Conformando-me com ele na sua morte: Paulo quer vivenciar todo o processo pelo qual passou Jesus Cristo. Não se trata aqui de um sofrimento redentivo, mas de um conformar-se completamente à vida de Cristo. Para Paulo, vida cristã é união com Cristo.

11 para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos.


Conforme já foi mencionado, Paulo entendia que todos nós já havíamos ressuscitados em Cristo. Entretanto, há uma tensão no pensamento de Paulo que alguns denominavam de “o já” e o “ainda não”. Ou seja, nós “já” ressuscitamos em Cristo, mas também “ainda não” ressuscitamos com ele, ou seja, é algo que já recebemos, mas que ainda não se consumou inteiramente em nossa existência. É como se caminhássemos rumo a algo que já recebemos. 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Acautelai-vos dos maus obreiros



1 Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas.
2 Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!
3 Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.

COMENTÁRIOS

Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. Alegrar-se no Senhor é se alegrar em sua união com Ele. Alegrar-se na sua Palavra, nas obras que ele determinou que fizéssemos. Alegrar-se por sofrer por amor ao evangelho.
Um dos pensamentos mais caros ao apóstolo Paulo é que o crente é alguém unido ao Senhor, uma só alma com Ele.

É bem verdade que existem muitas coisas neste mundo que podem e devem alegrar o coração humano, seja de uma pessoa crente ou não. Entretanto, a maior alegria do cristão vem de sua união com Cristo. Por isso Paulo pode dizer para sua igreja alegrar-se no Senhor. A alegria do crente é vivida na união com o seu Senhor, e isso é algo que se pode sentir, viver.

É somente em Jesus e em sua obra que o crente deve buscar sua fonte de verdadeira alegria, pois todas as coisas na vida do fiel são feitas para a glória de Cristo.

A mim, não me desgosta e é segurança para vós outros que eu escreva as mesmas coisas

Paulo não se importa em ensinar as mesmas lições, caso seja necessário. Em muitas outras partes dessa carta ele menciona o tema da alegria, do regozijo no Senhor. Mas talvez ele também se refira ao que passará a descrever agora.

Acautelai-vos dos cães! Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!

Esse tríplice “acautelai” é uma ênfase. Parece que a maioria dos comentaristas entendem que nesse versículo Paulo não está se referindo a três tipos de pessoas (cães, maus obreiros e falsa circuncisão), mas uma só. 
A maioria entende que ele não se refere aqui aos judeus propriamente ditos, mas aos judaizantes, ou seja, aqueles que entendem que de fato Jesus é o Messias, mas dizem que o homem precisa se circuncidar para ser salvo. Era um grupo que ia atrás de Paulo, distorcendo sua mensagem, ou dizendo que seu evangelho não era completo. Mas vejamos o “apreço” que Paulo tem por essas pessoas. Há quem possa entender que se trata sim de três tipos de pessoas diferentes, e que os judaizantes pertenciam notadamente ao terceiro grupo. Veremos as duas possibilidades.

Cães: geralmente os judeus chamavam gentios de cães. Aqui, Paulo inverte. Talvez seja uma alusão à ferocidade, agressividade desses homens. Há quem diga que a agressividade é filha do erro. Podemos nos lembrar de que quando a questão acerca da circuncisão foi discutida antes do chamado concílio de Jerusalém, houve grande contenda.

Há quem entenda que cães aqui tenha a ver com falsos crentes imbuídos na igreja. Pessoas da mais alta depravação que se banqueteiam no meio do povo de Deus (Judas 12-13).

Maus obreiros: eles de fato eram obreiros, e muito provavelmente estavam infiltrados dentro da igreja. E eles eram obreiros porque provavelmente obravam muito mesmo. Não é porque uma pessoa não prega a verdade que ela deixa de obrar, ou de trabalhar naquilo que acredita. Muito pelo contrário. É muito comum vermos nas seitas mais extravagantes um grande esforço proselitista. Não raras vezes que se diz por aí que se os verdadeiros cristãos fizessem pela verdade os que as seitas fazem pela mentira, muito mais poderosa seria a igreja dos dias atuais. Entretanto, esses obreiros também eram maus. Eram maus porque deturpavam a mensagem do evangelho. E não deturpavam em um sentido de que seria somente uma questão de opinião. Para Paulo, essa questão da circuncisão era inegociável.

Maus obreiros segundo outra corrente seriam mesmo obreiros relaxados, que dão mau exemplo, não vivendo vida condigna do evangelho.

Falsa circuncisão: aqui se entende que se está a mencionar os judaizantes. A falsa circuncisão não passava de uma circuncisão exterior, da carne. Paulo não está aqui ofendendo a circuncisão que foi entregue a Abraão e guardada historicamente pelo povo judeu. Paulo aqui critica quem utiliza desse ritual como forma de salvação e que o quer impor aos gentios. Esse era o problema. A circuncisão verdadeira, mesmo nos tempos de Israel, era a circuncisão do coração (Deuteronômio 10.16). Ou seja, nem na antiga aliança o ritual deveria ser destituído de uma verdadeira disposição do coração. Ocorre que na nova aliança, a circuncisão é interior (Rm 2.28-29), e não pode o ritual ser imposto aos gentios por fazer parte da aliança com o povo de Israel. Isso nos mostra que mesmo lições verdadeiras do antigo testamente precisam ser cuidadosamente aplicadas para os cristãos para não corrermos o risco em cair em perigosa heresia. A circuncisão de fato era um ensino da antiga aliança, mas não deveria se estender para a nova, notadamente no que se referia aos gentios.

Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.

Nós é que somos a circuncisão significa dizer que nós, a igreja, é que somos o povo de Deus agora. Há uma corrente de pensamento no sentido de que Deus não tem dois povos sobre a terra; só tem um, e é formada por aqueles que receberam o Senhor Jesus como seu Salvador. Esses são a verdadeira circuncisão.

Nós que adoramos a Deus no Espírito. Adorar no Espírito significa que somos por Ele habitados, selados e guardados. Se trata de uma adoração que flui do interior para o exterior, e que não tem como marca somente um ritual externo ou um lugar sagrado. É um entendimento que procede da verdade de que Jesus é o Senhor, e que liberta de qualquer ritual, local, sistema, pois se trata de uma unidade com o próprio Espírito de Deus, que não depende de se estar ou não em Jerusalém, conforme o diálogo da mulher Samaritana e Jesus, pois quem crê, do tal fluirá uma fonte para a vida eterna (João 4.14).

Nos gloriamos em Cristo Jesus. Um eco de Jeremias 9.23-24. Ou seja, nos gloriamos naquilo que Cristo fez por nós, na sua morte em nosso favor, em sua ressurreição para nossa justificação, em sua intercessão constante pelas nossas vidas diante do Pai. Há quem se glorie na sua religião, nos seus rituais, na sua denominação, entre outras coisas. Mas Paulo, quando dizia que não se propunha a saber nada mais a não ser a Cristo, e esse crucificado.

Não confiamos na carne. Não confiamos em nós mesmos, nas nossas obras, na nossa justiça própria, em um ritual, ou coisa do tipo. como dito antes, nos gloriamos somente em Cristo.

sábado, 20 de maio de 2017

Características (também) maternas no Espírito Santo em nosso favor

Na antiguidade era comum termos nas diversas religiões a imagem de alguma deusa, uma figura feminina para os fiéis. Diana, a deusa dos Efésios; Afrodite, a deusa do amor para a mitologia grega; Ísis dos egípcios; Iemanjá, a deusa do mar para algumas vertentes espíritas, entre outras.

No catolicismo romano, todos sabemos, temos a figura de Maria, mãe do nosso Senhor, que é venerada acima de todos os santos. No catolicismo popular, hoje, ela é considerada medianeira, intercessora, consoladora, advogada, corredentora. Ou seja, são elementos improváveis pelas Escrituras Sagradas, mais devedores à tradição católica, e que está muito distante da concepção evangélica atual.

Mas e no protestantismo? Será que temos alguma figura feminina da qual celebrar? Parece que nossa expressão, desde o judaísmo, é um tanto quanto patriarcal, com o Pai no centro.

E de fato, Jesus nos ensinou a chamar o seu Pai de nosso Pai. Daí, não se possível, a meu ver, querer transmutar em nossa Mãe. Em seu evangelho, Jesus revela a Deus como nosso Pai. Caso quisesse, poderia ter dito que era nossa mãe, mas assim não o fez, de modo que eu, particularmente, não apoio traduções nas Escrituras que na oração do Pai nosso queiram chamar Deus de nosso Pai/Mãe, ou coisa do tipo.

Mas e daí? Por conta disso, ficaremos sem uma figura materna em nossa espiritualidade?

Bom. Particularmente, gostaria de propor uma alternativa para todos nós evangélicos. Que nós enxergássemos e apreciássemos aquelas características em Deus, mais precisamente no Espírito Santo, que se aproximam de características maternas. Eu não acho que seja impreciso falar desse modo, tendo em vista que Deus é a fonte de todo bem, inclusive das maravilhosas características maternas de toda boa mãe.

Uma mãe é aquela que, pelo menos do ponto de vista biológico, gera vida, traz a luz filhos. São momentos de intimidade, alegria, e mesmo de dor que somente uma mãe poderia sentir, experimentar e explicar. Também são momentos de dores, muitas vezes. Assim também o Espírito Santo é aquele que nos faz nascer de novo (Jo 3.5-6), é Aquele que realiza esse milagre em nós. Também creio que não é algo que ocorra sem sofrimento naquele que é a própria Pureza absoluta. É um milagre que só ele pode operar, podendo nesse processo utilizar vidas, uma vez que o próprio Paulo dizia sofrer as dores de parto até que Cristo fosse gerado em seus discípulos. Grande é esse mistério da fé, o da nossa regeneração no Senhor por intermédio do Espírito Santo!

Uma outra característica de uma boa mãe é que ela corrige seus filhos quando andam errados, educando-os, trazendo-os de volta à luz. Assim também o Espírito é Aquele que nos convence do pecado (Jo 16.8), e creio eu, não faz isso somente com incrédulos, mas principalmente conosco, os crentes também. Nos alerta quando pecamos, falhamos, damos um fora e nos traz para mais perto da verdadeira Luz do mundo, que é nosso Senhor. Bendito seja Deus pelo seu Espírito que sempre nos conduz. Paulo disse que aqueles que são conduzidos pelo Espírito são filhos de Deus!

Nossa mãe é a nossa mestra, que desde os primeiros anos de vida, vais nos ensinando o caminho do bem. Assim também o Espírito Santo é aquele que Jesus disse que nos guiaria em toda a verdade (Jo 16.13), afinal, Ele é o Espírito da verdade! Em tudo precisamos nos manter ensináveis diante do Santo Espírito! O que é muito interessante é que Jesus disse que, quando partisse, não deixaria os seus discípulos ficarem órfãos! E é por isso que o Espírito pode assumir características tão maternas, de certa forma. O Espírito cuida  de nós!

Mãe também é aquela que consola em um momento de tristeza! Que coisa melhor que um colinho da mãe, não é mesmo? Pois o Espírito Santo também é chamado de consolador (Jo 14.14-17)! É aquele que caminha ao nosso lado, não nos deixa, não nos abandona. Por maior que seja a tristeza, ele permanece para nos consolar! Por isso podemos suportar tantas coisas tristes que não raramente ocorrem para com o povo de Deus!

Finalmente, nossa mãe é aquela que, se precisar, intercede por nós diante das nossas dificuldades, enrascadas e outras coisas que nos enroscam. Nossa mãe luta por nós! Assim também o Espírito Santo intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rom 8.26). Nós não sabemos orar como convém, e não raramente nos metemos em enrascadas. Pois o Espírito intercede ao Pai por nós a partir de nós! Algo maravilhoso e inexplicável. Assim como uma mãe nos conhece profundamente, mais ainda o Espírito Santo, e este também conhece as profundezas do Pai, e leva nossas causas diante do Pai.

Esses, entre muitos outros, podem ser considerados aspectos maternos no cuidado que o Espírito tem para conosco. Que possamos, por isso, amar e obedecer esse Espírito bendito, que sempre cuida de nós!


Deus abençoe!


segunda-feira, 15 de maio de 2017

Obreiros aprovados no Senhor: Timóteo e Epafrodito





19 Ora, espero no Senhor Jesus enviar-vos em breve Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo as vossas notícias.
20 Porque nenhum outro tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso bem-estar.   
21 Pois todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.   
22 Mas sabeis que provas deu ele de si; que, como filho ao pai, serviu comigo a favor do evangelho.   
23 A este, pois, espero enviar logo que eu tenha visto como há de ser o meu caso;   
24 confio, porém, no Senhor, que também eu mesmo em breve irei.


COMENTÁRIOS

19 Ora, espero no Senhor Jesus enviar-vos em breve Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo as vossas notícias.

Assim como Paulo estava dando notícias a seu respeito aos filipenses, ele desejava mandar Timóteo a fim de saber mais notícias da igreja.
O que é interessante em Paulo é que, geralmente, quando estamos fragilizados ou tristes com alguma notícia, nós queremos atenção exclusiva. Queremos desabafar a nossa dor. Nosso sofrimento. De modo geral, as pessoas gostam de falar bastante de si mesmas, mas nutrem pouco interesse em ouvir o seu semelhante. Mas Paulo não é assim. Mesmo preso e sabendo que pode ser executado a qualquer momento, ele quer saber mais notícias acerca dos filipenses, e tem esperança de que, uma vez enviando Timóteo, poderá encontra-lo depois e saber mais a respeito da sua igreja amada.
Reflexão:
Você é uma pessoa que gosta mais de falar de si mesmo, ou você é uma pessoa disposta a ouvir?
Você é uma pessoa que já tem uma resposta para um problema que lhe é contado mesmo antes de ouvir totalmente, ou você é do tipo que ouve tudo primeiro e depois de pensar, dá o seu parecer?

20 Porque nenhum outro tenho de igual sentimento, que sinceramente cuide do vosso bem-estar.

Paulo conseguiu transmitir ao seu discípulo Timóteo esse mesmo coração pastoral. Não sabemos com quem Paulo estava exatamente o estava comparando. De qualquer modo, Timóteo era um irmão de destaque dentre os obreiros que acompanhavam Paulo.

É uma coisa muito bacana quando nós temos uma indicação, ou uma recomendação de alguém que consideramos importante. Isso demonstra nosso grau de dedicação e confiança que as pessoas depositam em nós.

Você já foi recomendado por alguém de respeito para alguma função? Você é uma pessoa considerada quando se trata de realizar alguma tarefa importante?



21 Pois todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus.

Aqui ainda não sabemos de quem Paulo estava falando quando comparado com Timóteo. Mas ele indica que, de modo geral, as pessoas, mesmo entre os obreiros que o acompanhavam, estavam mais preocupados com o seu próprio bem-estar, com o seu próprio interesse, do que com “o que é de Cristo Jesus”.

E o que é de Cristo Jesus? É a sua obra, o ministério, aquilo que Ele determinou que sua igreja fizesse. É o desenvolvimento do seu dom, o apoio aos irmãos, a obra de evangelização e pastoreio.

A maior parte parece não ter aberto mão de uma certa soberania pessoal. Algo do tipo “quero” ou “não quero fazer isso”, “quero ou não quero obedecer”. Elas não são “contáveis”. Elas deixam o trabalho difícil para outras pessoas. “Deixa que o outro faz, que o outro realizar, que o outro se responsabiliza”.

Mas Timóteo não era assim, pois ele buscava o interesse de Cristo em primeiro lugar.

Você pode dizer de si próprio que busca o interesse de Cristo em primeiro lugar em todas as coisas?


22 Mas sabeis que provas deu ele de si; que, como filho ao pai, serviu comigo a favor do evangelho.

Paulo reafirma aqui a sua confiança em Timóteo, mas não com base em uma opinião subjetiva ou um sentimento apenas. Paulo tem em vista fatos objetivamente considerados. Ou seja, Timóteo realmente deu provas concretas de sua fidelidade ao apóstolo Paulo e ao evangelho.

Ou seja, apesar de sermos todos irmãos em uma comunidade, é preciso ser considerado fatos objetivos para sabermos o nível de confiança e de responsabilidade que devemos colocar em uma pessoa. Uma pessoa que se esforça mais, realiza mais, acompanha mais terá muito maior chance de ser considerada como alguém de responsabilidade do que alguém que faz somente o que lhe der na cabeça.

Precisamos levar em consideração o fato de que Timóteo já acompanha Paulo há algum tempo. Como se diz por aí, já comeram muito sal juntos. O problema é que, não só no tempo do apóstolo, mas também hoje em dia parece que muitos começam bem sua caminhada, mas não conseguem perseverar.



23 A este, pois, espero enviar logo que eu tenha visto como há de ser o meu caso;
24 confio, porém, no Senhor, que também eu mesmo em breve irei.

Por tudo isso que acerca de Timóteo, Paulo reafirma seu desejo de enviá-lo assim que tiver uma novidade acerca de seu próprio caso, expressando ainda a confiança de que ele mesmo virá a ser liberto e poderá ir pessoalmente ver seus irmãos.


25 Julguei, contudo, necessário enviar-vos Epafrodito, meu irmão, e cooperador, e companheiro nas lutas, e vosso enviado para me socorrer nas minhas necessidades;   
26 porquanto ele tinha saudades de vós todos, e estava angustiado por terdes ouvido que estivera doente.   
27 Pois de fato esteve doente e quase à morte; mas Deus se compadeceu dele, e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza.   
28 Por isso vo-lo envio com mais urgência, para que, vendo-o outra vez, vos regozijeis, e eu tenha menos tristeza.   
29 Recebei-o, pois, no Senhor com todo o gozo, e tende em honra a homens tais como ele;   
30 porque pela obra de Cristo chegou até as portas da morte, arriscando a sua vida para suprir-me o que faltava do vosso serviço.   

Paulo menciona que irá encaminhar de volta para a Igreja o irmão Epafrodito, que foi o enviado da igreja para servi-lo (ele levou uma oferta e ele mesmo foi oferecido como oferta). Nessa missão, ele chegou a ficar muito doente, às portas da morte, mas pela graça de Deus, ele foi curado, para alívio geral. O apóstolo deseja que ele retorne agora, o mais breve possível, para que haja alegria na igreja, e ressalta que foi pela obra de Cristo que ele chegou “as portas da morte”. Ou seja, Paulo não tem o problema de admitir que ao ser servido por Epafrodito, este estava realizando a obra de Cristo. Isso parece nos indicar que servir bem a um líder no Senhor é realizar a obra de Cristo, um tema delicado hoje em dia tendo em vista os abusos de autoridade que vemos por aí.


Há um indicativo também nesta passagem que era muito útil o trabalho que Epafrodito estava realizando a Paulo, mas esse prefere abnegar de tal serviço a fim de devolver logo o mencionado irmão aos seus, o que mostra o caráter despojado do apóstolo, que não buscava os seus interesses em primeiro lugar.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Desenvolvendo a nossa salvação




12 Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor;
13 porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.
14 Fazei tudo sem murmurações nem contendas,
15 para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo,
16 preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente.
17 Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo.
18 Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo.

Breves comentários:

12 Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor;

Obediência na ausência do líder: Os filipenses, ao que tudo indica, tinham uma certa dependência do apóstolo, tanto que nesse versículo 12 ele reforça o que já havia dito em 1.27.

A obediência dos filipenses não deveria existir somente com a presença física de Paulo, mas muito mais agora em sua ausência. E no caso em questão, tal obediência se concretizaria no fato em que a comunidade passaria a imitar o exemplo de Cristo e servirem uns aos outros em amor. Não é incomum determinadas comunidades começarem a terem desentendimentos ante a ausência de seu líder. Paulo quer evitar que isso aconteça.

A verdadeira prova do real aprendizado de alguém não é aquilo que faz na presença de seu líder, mas sim na sua ausência.

Desenvolvei a vossa salvação: é nossa responsabilidade desenvolver a nossa salvação, pois embora essa seja um ato ocorrido em determinado momento de nossas vidas quando recebemos a Cristo como Senhor e Salvador, continua sendo um processo para todo o sempre, e é nossa responsabilidade realizar isso. A ideia de desenvolvimento aqui é um “esforço contínuo e vigoroso”. O tempo verbal dá uma ideia de “continuem a desenvolver”. 

Temos que tomar cuidado para não atribuir ao Senhor uma responsabilidade que em parte é nossa. É desenvolvermos cada dia no evangelho, praticando todas as disciplinas espirituais à nossa disposição (Leitura, oração, mortificação da carne, santificação, boas obras).

As Escrituras dizem de Jesus que ele crescia em sabedoria, estatura e graça (Lc 2.52), e seu crescimento era evidente diante de todos. Também podemos e devemos crescer nessas características, estudando as Escrituras, praticando boas obras, e tendo comunhão com Deus e com nossos irmãos. E, embora após certa idade não cresçamos mais em estatura física, talvez não seja errado dizer que temos o dever de procurar manter nossas saúde e equilíbrio mental da melhor forma possível.

Com temor e tremor: não é com espírito de relaxo como o que acometeu à Nadabe e Abiú. Não é com indiferença e mente dividida. Mas com sinceridade, propósito, reverência, respeito, seriedade, com temor de ofender a Deus e ao seu Espírito, com bastante humildade.


13 porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.

Deus efetua em vós: Esse desenvolvimento da própria salvação só pode ser efetuado porque a iniciativa parte do próprio Deus. Em tudo o quanto diga respeito à salvação, renúncia ao pecado, santificação, a iniciativa parte sempre do próprio Deus. Isso é graça. Cabe a cada pessoa não resistir a tal operação divina, e cooperar com ela para o próprio crescimento, tomando parte ativa nisso. Mas para isso acontecer, temos que sempre estar “ligados” em Cristo (Jo 15.4).

Tanto o querer quanto o realizar: É Deus quem concede a “energia” (“energeo”) suficiente para isso. Deus opera em nós tanto o querer (o desejo) quanto o realizar (a obra em si). Em tudo Deus está “na base”, “no princípio”, no “início de tudo”. Ele suscita em nós o desejo e nos ajuda a fazer o que em nós suscitou.

Ou seja, ele efetua em nós o querer e o realizar e nós desenvolvemos a nossa salvação com temor e tremor. Iniciativa divina e responsabilidade humana, juntas, afirmadas nas Escrituras.


14 Fazei tudo sem murmurações nem contendas,

“Fazei tudo” diz respeito acerca de tudo o quanto Paulo determinou até agora. Murmurar reclamar sem razão, fazer as coisas com má vontade, uma enfatuação dos mandamentos. Contendas é discutir, brigar, desobedecer, criar caso, intriga, etc.


15 para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo,

Irrepreensíveis e sinceros: envolve uma atitude correta (da qual ninguém pode nos acusar de nada), e também uma disposição, um espírito correto, puro, sem mistura com qualquer tipo de mal (ou seja, atitude exterior irrepreensível e atitude interior pura).

Filhos de Deus inculpáveis: expressarmos a natureza de Deus em um caráter íntegro e sem mácula, sem do que terem de nos acusar.

no meio de uma geração pervertida e corrupta (má e perversa): isso se expressava em uma vida violenta e imoral nos tempos do apóstolo, em que não havia nenhum temor de Deus.

Na qual resplandeceis como luzeiros no mundo: Isso é uma forma de destaque muito grande que servirá de modelo, de exemplo para o mundo. É como se os discípulos fossem “astros” no céu.


16 preservando a palavra da vida, para que, no Dia de Cristo, eu me glorie de que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente.

Preservando a palavra da vida: estudando-a, guardando-a, praticando-a, proclamando-a.

Para que no dia de Cristo: dia da volta de Cristo

Eu me glorie que não corri em vão, nem me esforcei inutilmente: se gloriar no sentido de se alegar, sentir um bom orgulho, por assim dizer, de que seu trabalho não foi em vão. Constantemente Paulo usa a imagem de uma corrida, talvez tomando emprestado a ideia do esforço e da disciplina que envolve a vida dos corredores. A perseverança dos filipenses demonstrará que Paulo também não se esforçou/trabalhou inutilmente.


17 Entretanto, mesmo que seja eu oferecido por libação sobre o sacrifício e serviço da vossa fé, alegro-me e, com todos vós, me congratulo.

A ideia é a de que, se os filipenses viverem dessa forma determinada por Paulo, este terá alegria mesmo diante da morte (libação = aspersão de um líquido). Ou seja, uma vez tendo cumprido o objetivo de servir aos filipenses, e vendo o fruto do seu trabalho realizado, ele estaria diante de uma boa morte. O que define uma boa morte não é o modo como se morre, mas saber que se fez o que tinha que fazer de maneira bem feita.


18 Assim, vós também, pela mesma razão, alegrai-vos e congratulai-vos comigo.


Paulo convida seus leitores a se alegrarem com ele diante de todas essas questões. Chama seus queridos a se alegrarem no seu martírio, demonstrando sua fidelidade no servido ao Senhor.