“...onde
está o teu tesouro, aí também está o teu coração” (Mateus 6.21).
Todos nós já ouvimos
falar de pessoas, muitas vezes, próximas a nós, que cometem um ato de suicídio,
algumas vezes até levando consigo pessoas da própria família. Durante essa
semana soubemos da trágica história de um homem que se atirou com seu filho de
quatro anos de um fórum trabalhista. Outro, profissional de alta qualificação,
que pareceu se sentir angustiado por questões do seu trabalho e crise do tipo
econômica, e assassinou sua mulher e filhos antes de se suicidar.
Certamente isso pode
ser uma patologia da alma, uma enfermidade psicológica que demanda um
tratamento clínico e psiquiátrico. Infelizmente, temos a tendência de não procurar
ajuda profissional nesses casos, o que pode ser um erro fatal.
Além do que, diante
de tal quadro trágico, é difícil não imaginar que, em muitos casos, pode ser
também uma questão espiritual (João 10.10).
Todos nós sempre nos
esforçamos para tentar evitar uma enfermidade física. Talvez seja necessário
também nos ocuparmos no sentido de procurar também se precaver contra
enfermidades da alma. Por isso, lemos esse versículo em que Jesus disse acerca
do nosso coração estar naquilo que consideramos nosso tesouro. Se tal tesouro
for algo frágil, indigno de toda a nossa confiança, certamente teremos nosso
coração despedaçado caso algo venha a ocorrer com aquele. Portanto, seguem
alguns princípios que podem nos ajudar a manter, por assim dizer, nossa “saúde
espiritual”.
1
– Não coloque totalmente o seu coração sobre a vida de uma pessoa.
Os relacionamentos podem
ser para nós uma fonte de alegria. São deles que tiramos boa parte de nossa
felicidade e contentamento. Mas também são nos relacionamentos que nos
machucamos, somos ofendidos, ou entristecemos alguém. Por isso, o
relacionamento mais importante que devemos cultivar é com Deus. Não podemos
idolatrar o ser humano, nem ter nele a fonte de toda nossa felicidade e
contentamento, pois o nosso próximo sempre poderá nos decepcionar. Talvez por
isso Jesus disse que, se alguém fosse a ele, e não aborrecesse seu pai, sua
mãe, e mulher, e filhos, e irmãos e irmãs, não poderia ser seu discípulo (Lucas
14.26). Nenhuma relação pode ser mais importante do que a com o nosso Senhor.
Ele deve ser o maior alvo de nossa fidelidade.
2
– Não coloque totalmente o seu coração sobre os bens materiais.
É muito bacana pode
usufruir do fruto do seu trabalho com sua família e pessoas que amamos. Entretanto,
também não podemos fazer da busca das riquezas o mote principal de nossa
existência. Jesus chegou a ensinar que ninguém poderia “servir a Deus e as
riquezas” (Mateus 6.24). Em outra ocasião, enquanto dois irmãos discutiam por
conta de uma herança, Jesus ensinou para termos “cuidado e nos guardar de toda
e qualquer avareza, porque a vida do homem não consiste na abundância de bens
que possui” (Lc 12.15). Muitas pessoas chegam a ficar doentes por conta da
busca dos bens materiais, trabalho, e coisas do tipo. Embora precisemos de
todas essas coisas para sobreviver, não podemos focar nelas o foco de toda a
nossa vida.
3
– Não coloque totalmente o seu coração em suas realizações.
Também é muito bom
realizar coisas boas, e nos alegrarmos naquilo que fazemos. O Senhor diz que
abençoa a obra de seus filhos, e isso é maravilhoso. Entretanto, não podemos muitas
vezes confundir aquilo que somos com o que fazemos, por mais importante que
seja. Há casos de pessoas que se dedicam uma vida toda a uma determinada
atividade, quando, em algum momento, esta passa a se tornar desnecessária. Tive
um amigo que era um excelente datilógrafo, e que ficou muito chateado quando
deixou a máquina de escrever para utilizar o computador. Outros ficam
absolutamente desesperados quando perdem um emprego ou quando se aposentam.
Outros ficavam chateadíssimos quando seu trabalho não é reconhecido pelo seu
empregador, pastor, família e comunidade. Não adianta ficar magoado nessas
situações, temos que ter a força em Deus necessária para virar a página, e até
começar uma nova história se for necessário. Há uma interessante estória na
literatura de um homem que só se sentia alguém quando utilizava uma farda.
Todos os dias ele se vestia, olhava no espelho e saia orgulhosamente pela rua,
sendo cumprimentado por todos. Houve um dia em que se aposentou, olhou-se no
espelho, mas não enxergou ninguém. Isso porque, aquele homem só se reconhecia
quando vestia sua farda. Ele confundiu o seu ser com sua atividade. Por isso,
tudo o que fizemos, não pode ser em primeiro lugar para homens, nem para nós
mesmos, e sim para Deus, para a glória d’Ele (1 Coríntios 10.31), e não podemos
idolatrar nem aquilo que fizermos.
4
– Não coloque totalmente o seu coração naquilo que as pessoas pensam de você.
Em cartas que algumas
pessoas deixam antes de se suicidar, elas revelam a vergonha daquilo que os
outros vão pensar delas por conta de alguma crise. Algumas não suportam que
outros saibam da dificuldade que estão passando. Alguns, por exemplo, sempre
sustentaram um alto padrão de vida, e sentem muita vergonha quando passam por
uma crise. Adolescentes costumam dar muita importância ao que os outros pensam
deles, principalmente por conta da aparência. Há história de meninas, mesmo
cristãs, que realizam aborto, pela vergonha de encarar os seus pais e comunidade
(o que pode demostrar que muitas vezes somos comunidades mais julgadoras do que
acolhedoras). Entretanto, muito mais importante do que aquilo que os homens
pensam de nós, é o que Deus pensa de nós. E as Escrituras dizem que Deus é amor,
que ele nos ama com amor infinito, que deu o seu Filho para morrer e
ressuscitar por nós, e que tem pensamentos de paz a nosso respeito. Ele não
quer que ninguém se perca, mas que cheguemos todos ao pleno conhecimento da
verdade, e que jamais se agradou da morte de alguém. Por isso, mais importante
do que tentar agradar aos outros, e de se deixar levar por uma crise por conta
daquilo que pensam de nós, mais importante é agradar a Deus, sabedores que,
mesmo se falharmos, ele é fiel e justo para nos perdoar de todas as nossas
falhas, pois a misericórdia triunfa sobre o juízo. Que possamos dizer com o
salmista:
Todavia,
estou sempre contigo
Tu
me seguras pela mão direita
Tu
me guias com o teu conselho
E
depois me recebes na glória.
Quem
mais tenho eu no céu?
Não
há outro em que eu me compraza na terra
Ainda
que minha carne e o meu coração desfaleçam
Deus
é a fortaleza do meu coração
E
a minha herança para sempre
(Salmo
73.23-27)
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