quarta-feira, 7 de junho de 2017

Obras da carne e fruto do Espírito

A menção ao fruto do Espírito se encontra na epístola de Paulo aos gálatas, que foi escrita com o propósito de combater os judaizantes, que sustentavam que um homem teria que ser circuncidado para ser salvo. Nesta carta, Paulo combate o legalismo judaico, reafirmando a verdade de que o homem é salvo somente pela fé, e não por guardar as obras da lei (2.16; 3.1-14; 5.2). Entretanto, sempre há o risco de se interpretar mal o evangelho da graça, achando que podem usar de maneira errônea a liberdade que possuem em Cristo, daí, Paulo advertir nesta epístola que o verdadeiro crente deve ter um correto relacionamento com o Espírito Santo (5.15-26).
O crente não pode dar vazão à sua carne, mas andar no Espírito, ser guiado pelo Espírito, ter em si o fruto do Espírito, e viver no Espírito. Vamos ver resumidamente quais são as obras da carne mencionadas por Paulo e depois meditar no fruto do Espírito.
As obras da Carne mencionadas por Paulo podem ser classificadas da seguinte forma:
De cunho sexual: prostituição, impureza, lascívia.
De cunho religioso: idolatria; feitiçaria.
De cunho social: inimizades, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções; invejas, bebedices, glutonarias.
De cunho pessoal: bebedices; glutonarias.
Vejamos uma a uma das obras da carne:
Prostituição: pornea - qualquer ação sexual em troca de pagamento. Ex: prostituição clássica; no dia a dia pessoas se envolvem por interesses. Há quem inclua nesta concepção qualquer relação fora de cunho sexual fora do compromisso de um casamento heterossexual.
Impureza: akatharsia – impureza de atos, palavras, pensamentos e intenções. Atos contra a castidade. Ausência de amor. Em Hebreus 13.4, é considerado digno entre todos é o leito sem mácula).
Lascívia: alsegeia – estado desavergonhado de imoralidade sexual. Quando a pessoa perde todo o freio. Atos que chocam o público. Libertinagem.
Idolatria: eidolatria - adoração de ídolo. Colocar qualquer coisa na sua vida no lugar de Deus. A avareza é chamada em outro lugar de idolatria (Col 3.5).
Feitiçaria: pharmakeia – uso de remédios, drogas, com propósitos mágicos. Realização de certos rituais com invocação de espíritos ou supostas forças da natureza. Necromancia, e coisas do tipo. A utilização de elementos psicotrópicos também estava associada a esses rituais.
Inimizade: exthrai - nutrir qualquer sentimento contra o seu semelhante que te torne hostil a ele. Animosidade. Hostilidade.
Porfias: eris – lutas, contendas, disputas, vias de fato.
Ciúmes: zelos – entristecer-se por não ter algo e desejar o que o outro tem, não por uma admiração genuína, mas por uma ideia de disputa, podendo ser coisas, honra, posição. Também o zelo excessivo sobre a vida de alguém.
Iras: thumoi – temperamento raivoso, violento, explosivo, cólera momentânea.
Discórdias: eriheiai ­– conflito, lutas, contendas. Espírito partidário e tendencioso. Não se busca a verdade; busca somente disputar e vencer.
Dissensões: dichostasiai – sedição, rebelião.
Facções: aireseis - pode ser traduzido por heresias. Elementos divisores em torno de uma ideia ou pessoa.
Invejas: fthonoi - desejar que o outro perca o que tem. Se alegrar com a desgraça alheia. Se entristecer terrivelmente com a felicidade alheia. Não basta ter o que é do outro, este tem que perder o que tem.
Bebedices: methai - é a embriaguez desenfreada na busca do prazer, da sensualidade, da perca de freios.
Glutonarias: komoi – também traduzido por orgias, É a busca desenfreada por prazer, inclusive comendo.
Note que se trata de uma lista genérica, pois Paulo menciona “coisas semelhantes a estas” (5.21)
Percebemos que as obras da carne são mencionadas no plural (vers. 19), mas Paulo não fala em “frutos”, mas sim em “fruto” (vers. 22). A ideia talvez tenha a ver com o fato de que o fruto deva ser “recolhido”, “possuído”, “recebido” inteiramente, ou seja, com todas as suas características em conjunto, sendo que, no que se refere as obras da carne, elas não precisam ser realizadas em sua totalidade para uma pessoa ser considerada carnal.
Uma outra diferença é que as obras da carne são produzidas diretamente por nossa própria natureza carnal, entretanto, o fruto do Espírito é produzido em nós pela ação divina. É algo que se recebe. Esse fruto é descrito em nove virtudes morais:
AMOR: (ágape) benevolência invencível. Amor doador, que não deseja recompensa ou reconhecimento. Basta o bem-estar do ser amado. Não se trata do amor de pai para filho (storge), nem de eros ou somente filia. É basicamente o amor de Deus em dar o seu Filho pelo mundo, e de Jesus em morrer por nós quando ainda éramos pecadores.
ALEGRIA: (chara – mesma raiz de charis/dom/graça) = é uma alegria cheia de graça, como um dom de um relacionamento com Deus.
PAZ: eirene - serenidade, tranquilidade, mesmo em meio às circunstâncias difíceis. Paz com Deus e exalação de um caráter pacífico diante de todos.
LONGANIMIDADE: makrothumia - pessoa tardia em irar-se e suporta injúria de outras pessoas. Extremamente paciente. Alguém que não se vinga.
BENIGNIDADE: crestotes - disposição gentil e bondosa para com os outros. O jugo de Cristo é crestos (Mt 11.30).
BONDADE: agathosyne - atividade em fazer o bem, ainda que seja algo difícil como confrontar alguém em seu erro.
FIDELIDADE: pistis - pessoa leal, digna de confiança, caráter confiável. Não deixa os outros na mão, cumpre compromissos.
MANSIDÃO: prautes - é a pessoa controlada, submissa. As pessoas mansas mantem as suas emoções sobre controle. Quando confrontada, não reage.
DOMÍNIO PRÓPRIO: egkrateia – autocontrole, disciplinado, moderado em todos os aspectos da vida, seja na área sexual, no controle das palavras, no uso de seus bens, etc.
Embora saibamos que o fruto do Espírito é uma ação de Deus em nós, que produz a natureza divina, isso não significa que não devemos fazer nada para alcançá-lo. Por isso Paulo escreveu que devemos “andar no Espírito e jamais satisfazer a concupiscência da carne” (5.16). Que devemos ser “guiados pelo Espírito” (5.18). Descreve também que, “os que são de Cristo crucificaram a sua carne, com as suas paixões e concupiscências” (5.24). Devemos “viver e andar” no Espírito (5.25).  Viver no Espírito é manter viva a nossa comunhão com ele, e andar n’Ele, significa realizar atos, obras, conforme o seu querer. 


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