Os
vers. 15 a 20 aparentemente retratam um hino cristão primitivo que relata a
proeminência do Filho na Criação e na Redenção.
CRIAÇÃO
15 Este
é a imagem do Deus invisível, o primogênito
de toda a criação;
16 pois, nele,
foram criadas TODAS AS COISAS, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer
potestades. Tudo foi criado por
meio dele e para ele.
17 Ele é antes de TODAS AS COISAS. Nele, tudo
subsiste.
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REDENÇÃO
18 Ele
é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os
mortos, para em TODAS AS COISAS ter a primazia,
19 porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a
plenitude
20 e que, havendo feito a
paz pelo sangue da sua cruz, por
meio dele, reconciliasse consigo mesmo TODAS AS COISAS, quer sobre a
terra, quer nos céus.
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15 Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a
criação;
A imagem do Deus invisível – faz lembrar Gn 1.27, tendo sido o homem criado à
imagem e semelhança de Deus. Entretanto, com uma diferença significativa (Cl
2.9; 2.3). Anos antes Paulo já havia escrito que Jesus era a imagem de Deus (2
Co 4.4). Jesus já havia “subsistido em forma de Deus” (Fl 2.6). Ele estava no
princípio com Deus e era Deus, tendo se revelado aos homens (Jo 1.1,18). A ideia
é de que o Filho corresponde plenamente à imagem de Deus. Assim como uma foto
de uma pessoa corresponde à determinada pessoa, mais ainda Jesus corresponde
completamente à imagem de Deus (Jo 10.30).
O primogênito de toda a criação. Aqueles que negam a divindade de Cristo utilizam
esse verso para tentar demonstrar que Jesus foi a primeira criatura de Deus. Entretanto
a ideia aqui não é de uma primeira criatura, mas sim de alguém que contém em si
toda a criação. Note que o texto não diz acerca de dele como uma primeira
criatura entre outras, como se estivesse na sequência, mas diz dele como
realizando toda a criação, sendo antes de todas as coisas, sendo o próprio sustentador
da vida (vers. 17)[1].
Se
fizermos uma interpretação sistemática com outras passagens do Novo Testamento,
não haverá margem para entendermos que Jesus não seja realmente plenamente
divino, tendo existido desde sempre (Jo 1.1, 18; 10.30; 14.9; Fp 2.6; Hb 1.3; Ap
3.14; 1 Tim 1.17; 6.16; etc). Além do que é preciso verificar que, se
aceitarmos que Jesus não tenha existido, ainda que por um curtíssimo espaço de
tempo, a igreja primitiva teria sido politeísta em sua adoração, sendo o
cristianismo talvez somente mais uma religião com um panteão de divindades a
serem veneradas.
16 pois, nele, foram criadas
todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam
tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado
por meio dele e para ele.
17 Ele é antes de todas as
coisas. Nele, tudo subsiste.
Nele foram criadas todas as coisas: Paulo abrange tudo. Tudo está em Cristo, sejam as
coisas visíveis ou invisíveis. Não há nada, seja no universo material ou
espiritual que não esteja em Cristo. Tudo foi criado nele, por meio dele, e
para ele. Daí se diz que toda a criatura e toda a criação tem como finalidade
ser d’Ele e para Ele.
Ele é antes de todas as
coisas: não houve tempo
em que ele não existisse (João 17.5).
Todas as coisas subsistem nele. Tudo subsiste em Cristo; nada fora d’Ele.
18 Ele é a cabeça do corpo, da
igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as
coisas ter a primazia,
Cabeça do
corpo, da igreja. É a primeira vez que Paulo faz menção direta de Cristo como
sendo o cabeça do corpo, da igreja. Aqui, a menção não é a igreja local, mas
universal. Nas Escrituras, tanto a igreja local quanto a universal são chamadas
de corpo de Cristo. E Cristo é sempre o cabeça. “Cabeça” significa soberania,
autoridade, comando.
Assim como
ele é o primogênito na criação, é também o primogênito na ressurreição, para
ter primazia, seja na Criação, seja na Redenção. Ele é Criador e é Redentor.
Tudo isso temos que verificar no contexto de combate ás ideias dos falsos
mestres, que ensinavam que Cristo era somente mais uma criatura e que não poderia,
de modo algum, efetuar sozinho nenhum tipo de salvação, sendo somente mais um
dentre os principados e potestades.
19 porque aprouve a Deus que,
nele, residisse toda a plenitude
Expressa
o prazer do Pai de residir plenamente (pleroma, um termo muito usado pelos
gnósticos) em Cristo. Veja. A plenitude de Deus não está fragmentada em várias
partes, várias potestades, principados, ao ponto do redentor para estar no
nosso plano de existência tivesse que rejeitar praticamente toda a sua
divindade. A plenitude de Deus está e sempre esteve em Cristo (2.9).
20 e que, havendo feito a paz
pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as
coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.
Uma
passagem em que muitos teólogos, como o grande Orígenes de Alexandria, pela sua
leitura e interpretação literal, ensinaram que no final, todas as coisas serão
reconciliadas com Deus, pelo sangue da cruz. Para ele e muitos teólogos depois
dele, haveria esperança até mesmo para os anjos caídos. Não poucas pessoas têm
ensinado assim, não excluindo todo o castigo e correção, mas que no final das
contas, tudo será restaurado. Alguém disse que não seria possível uma alegria
em um universo eterno em que se soubesse que há uma câmara de tortura para todo
o sempre. Essa ideia foi considerada herética pela igreja católica romana e por
todas as protestantes que se consideram ortodoxas, sobrevindo aqui ou acolá.
A outra interpretação é no sentido da vitória de Cristo na cruz pelo seu sangue, submetendo todos pelo seu poder, pacificando assim o universo, restaurando-o em todos os sentidos, pacificando inclusive forças malévolas que seriam obrigados a se reconciliar, posto que vencidas e colocadas em um espaço onde não poderiam mais provocar desarmonia.
[1]
Também houve quem fizesse um paralelo entre Cristo e a sabedoria (Pv 8.22),
ideia bastante elaborada pelos pensadores judaicos de cultura grega; mas tal
paralelo tem claras limitações.
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