segunda-feira, 9 de outubro de 2017

AULA 9– Cap. 2.20-23: Inutilidade do ascetismo

20 Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitas a ordenanças: 21 não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro 22 segundo os preceitos e doutrinas dos homens?

É uma pergunta em forma de repreensão.

A ideia é a de que, se morremos em Jesus (e fomos por este fomos libertos), como voltar a se escravizar por determinados tipos de ordenanças criados pelos homens?

Se Jesus cancelou o escrito de dívida contra nós por conta de uma lei verdadeiramente dada por Deus, encravando na cruz, como poderiam os cristãos agora se deixarem escravizar por uma “lei” humana?

“Não manuseies, não toque, não prove”. Não sabemos com certeza que regras Paulo estava se referindo. Alguns exemplos possíveis:

            - se abster de certos tipos de comida (talvez totalmente de carne);
            - se abster de certos tipos de bebida;
            - formas específicas de se vestir;
            - evitar contato com determinadas pessoas;
            - evitar casamento;
            - formas rigorosas de jejum;

“Segundo os preceitos e doutrinas dados pelo homem” retoma o pensamento dado em Mc 7.6-7 e Mt 18.8-9, que por sua vez remontam a Isaías 29.13. O problema maior dessas regras não são por elas em si, mas pelo fato de tornarem a adoração a Deus inútil, bem como impedirem que se cumpram os verdadeiros mandamentos do Senhor.

“Pois todas essas coisas, com o uso se destroem”. Invoca o perecimento de qualquer coisa manuseada (ou não) nesse nosso plano de existência, notadamente a questão alimentar. Se destroem, pois, como disse o nosso Senhor, “entra pela boca, passa pelo estômago e é descarregado na latrina” (Mt 15.9). Notem a simplicidade e a clareza do ensino de Jesus acerca disso! Ou seja, comer ou não comer, beber ou não beber, não faz de ninguém melhor ou pior. Conforme Rm 14.7, se abster ou comer, desfrutar ou não, nenhuma diferença faz para a piedade cristã.

Uma grande tentação do rigorismo ascético é achar que, por cumprir tais coisas, alguém se faz mais agradável a Deus. Pode-se chegar também ao ponto de começar a julgar aqueles que não guardam tais preceitos como pessoas inferiores. Para a soteriologia neo testamentária, o pior ainda é que, geralmente tais tendências ascéticas costumam se arrogar com a possibilidade de se chegar a patamares maiores de espiritualidade, mesmo desprezando a mediação de Cristo. É mais uma tentativa de se chegar a Deus por esforços próprios.

23 Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não tem valor alguma contra a sensualidade.

“Aparência de sabedoria”: essas complexas regras ascéticas podem dar a impressão de serem coisa sábia mesmo, de gente entendida no assunto. Há uma certa atração mundana por tais questões. As pessoas olham e chamam tais atos de espirituais, interessantes, etc.

” como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético”: esse rigor ascético, essa quantidade de regras acaba gerando justamente o efeito oposto, qual seja, ao invés de culto a Deus, acaba se tornando um culto de si mesmo. É algo do tipo: a pessoa cria umas regras, cumpre essas regras, e se acha o bom. E diz que os que não cumprem tais regras não são bons. É falsa humildade, porque, o cumprimento dessas regras dá uma aparência de humildade religiosa, mas tal humildade é falsa, pois ele entende que está se tornando mais espiritual, mais entendido que os demais.

“não tem valor algum contra a sensualidade”: por se tratarem somente de regras e aparências externas, não combate devidamente a carne. Tal pessoa segue essas regras pela carne, vive pela carne, e continua sendo carnal.


“Em resumo: a acusação de Paulo é que esta ‘piedade’ religiosa era passível de ser abusada. Ostensivamente, empreendia a promoção dos mais altos interesses espirituais do devoto, mas o fazia de tal modo que servia somente para fazer dele um homem orgulhoso. Explorava seu amor ao conhecimento secreto; alegava oferecer-lhe a chave ao enigma de Deus e do universo; convidava-o a explorar o segredo do destino por meio de aplacar os ‘espíritos elementares’ e de venerar as hostes angelicais; prometia uma recompensa a um regime de disciplina, de jejuns e de mortificação de si mesmo; o recebimento de visões de coisas celestiais, verdadeiras ‘realidades’ além do mundo da matéria e da percepção dos sentidos; dava-lhe um senso de domínio-próprio que o colocava à parte doutros homens que eram subjugados pro suas tentações e vícios. Tudo isso, Paulo objeta abertamente, é apenas ‘vãs sutilezas’ (2.4). Quanto ao seu sucesso nos seus alvos declarados, deixa de manter a ‘carne’ sob controle. Pelo contrário, promove um espírito egoísta e insensato que alega ter uma experiência particular que está aberta apenas a umas poucas pessoas selecionadas” (MARTIN, Ralph P. Colossenses e Filemon, p. 111). 

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